Hoje abri o baú. Saíram de lá memórias de muitos anos, cheias de fungos e pó. Ver o passado espalhado no chão do quarto foi um pouco triste. Cocei o nariz. Fotos, jornais, arquivos esparramados. Antigos cadernos e revistas.
Buscava uma música do Rafa que meu sobrinho, e depois meu cunhado, pediram pelo feice. Eu pensei que ela estivesse numa pasta com todas as cifras e letras de nossa outrora venturosa carreira musical. Mas antes que eu pudesse encontrá-la, dei de cara com a nossa juventude. Uma agonia precedeu o prazer de um espirro e eu disse It's GOOD! -- to be young again.
Nos copiões empoeirados empunhávamos nossos instrumentos. A iluminação naquele palco estava oááátima. Vermelho, roxo, amarelo, azul, uma profusão de imagens, e cores, e sons. De repente os acordes da guitarra do Rafa eclodiram nos tubos dos auto-falantes e sua voz encheu a minha casa de vigor. Era o Bruno que tinha acabado de encontrar uma versão da música gravada nos arquivos do computador. Ah, a tecnologia! Um compasso depois e já tínhamos compartilhado a descoberta.
Senti um misto de euforia e dor. A morte, muito mais do que a vida, é um sôco no estômago de quem fica. Um golpe duro, uma bile amarga de saudade, de vontade de voltar no tempo. De viver mais uma vez aquele tempo. É tão injusto não poder estar perto de todos aqueles amamos. Mas, no fim, o tempo que não volta é o mesmo tempo que nos conforta.
E ouvindo aquele punk rock eu chorei, e depois sorri, e sorri, e sorri, e fui dobrar as meias lembrando só das coisas boas que passamos. Das viagens loucas que fizemos. Das tardes de ensaio no Quartinho Records. Do show do Supergrass, do Oasis, dos shows que demos e fizemos juntos. Das madrugadas e festas amanhecidas... dos churrascos da aurora das nossas vidas.
E finalmente fechei o baú e o vazio e a tristeza transbordaram de lembranças. Meu aniversário no Red Lyon: depois dos parabéns o Rafa pegou o violão e puxou In My Life, dos Beatles, e o bando de beatlemaníacos que estava no bar entoou a canção e aquele foi o presente mais lindo que ganhei...
There are places I remember
All my life, though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain
All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all
But of all these friends and lovers
There is no one compares with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new
Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I'll often stop and think about them
In my life I love you more
Dormingo daqui de Charlotte vou cantar essa pra você.