O dia mundial do rock é como o "world most famous buffalo wings" dos restaurantes norte americanos. Não entendeu? Eu explico. Aqui na América em todo restaurante que você vai, tem no cardápio no mínimo uma refeição - que a gente do Brasil e provavelmente do resto do mundo nunca nem ouviu falar - anunciada como "mundialmente famosa". Assim é o Dia Mundial do Rock. Mundial, só num país. Porque só no Brasil se comemora. O resto do mundo ignora!
Quer tirar a prova? Procure Dia Mundial do Rock no goolge em português, e depois em inglês, "July 13th, day of rock". A primeira busca resultará em considerável volume de ocorrências, já na segunda aparecerão somente 2 míseras pagininhas com vídeos e link de bandas brasileiras (ou melhor, gaúchas).
Não que isso seja um problema... mas acho bom desmitificar. Essa história do Dia Mundial do Rock aconteceu lá por volta dos anos 80, quando artistas famosos resolveram se unir contra a fome na África, participando de um festival que ocorreu ao mesmo tempo nos Estados Unidos e na Europa, afim de arrecadar fundos para os barrigudinhos da Somália.
Festivais como estes eram moda naquela década, mas este do dia 13 ficou mais famoso porque ocorreu simultaneamente em dois continentes e arrecadou 60 milhões para a causa da fome. Engraçado que os barrigudinhos da Somália continuam magros e desnutridos.
Aliás falta no mundo mais dias mundiais do rock, do jazz, do blues, da MPB, do pagode, seja lá do que for, que tenham este cunho filantrópico. Tanta criança desnutrida no Brasil, e os roqueiros, forrozeiros, pagodeiros e sertanejos universitários enchendo a pança de cachaça e nem aí pros descamisados e famintos brasileiros.
Mas voltemos ao roque, que é o que nos interessa... eu, depois de muito tempo prezando por ser roqueira e vivendo este desafio de viver da música, e mais ousadamente, do rock, cheguei a algumas conclusões diferentes da maioria daqueles aos quais, doravante, chamarei "roqueiros de verdade".
Eu não nasci pra ser roqueira. Primeiro porque cresci num ambiente MPB refinadíssimo - onde nem Roberto Carlos era muito bem visto. Minha educação musical foi escolhida a dedo por meus pais, e os meus ouvidinhos infantis iriam ouvir somente o fino da bossa, a música mais elitista possível. O Chico e o Tom eram os prediletos. Caetano e Gil, João Gilberto (chato pra caralho!) e Gal. O Rock só viria a conhecer na adolescência graças aos meus irmãos mais velhos e a minha paixão por Rita Lee e Roberto Carlos. Enfim.
A verdade é que esse tal de róquenrou foi uma fase muito boa da minha vida em termos de banda. Mas ele não acrescentou absolutamente nada financeiramente, muito pelo contrário, custou uma dinheirama violenta pra investir em instrumentos, cordas, viagens, cigarro, drogas, álcool, hospital, multas de trânsito, sem falar na chapinha, no cabeleireiro, na manicure, no figurino, nos quilos de bótons e batons, afinal de contas roquer requer estilo, e roqueiro que se preza não pode ser uma pessoa comum, né, roquer que é roquer tem que se destacar da multidão, ter um visual, saca? E acabar ficando igual aos outros roquers, mas ah.
Sem falar nas drogas. Cara! Acho que com tudo que eu já gastei só em álcool e cigarro dava pra fazer uma plástica com o Pitangui pra tirar essa barriga que os anos de bera me proporcionaram. Ou um transplante de pulmão, porque os meus já não valem merda nenhuma, pobrezinhos. E o fígado então? Afe! Bem, vejam o Ivo, do Blindagem. Isso sim é rock pra caralho!
O rock me proporcionou boas lembranças, mas as mais vivas delas permanecem aqui em carne em osso, na frente do espelho, quando você está com 30 e já não pode mais beber num dia sem sentir nada no outro. Daí você olha pro Keith Richards e pensa: esse sim nasceu pro Rock. A Andreza, do Uh La Lá também. Algumas poucas pessoas só, nascem pro rock.
Enfim, eu sou uma farsa. Eu não nasci pra ser roqueira, eu na verdade nasci pra ser atleta, mas daí veio o rock, daí fodeu! Foram alguns anos em que só me diverti, em que não fiz mais nada além de queimar neurônios e construir uma imagem mais ou menos carimbada na (ai como eu detesto essa expressão) "cena curitibana". Daí logo fui me preocupar (ou não) com algumas fofocas do meio, me envolvendo em intriguinhas tolas que nunca levaram a lugar nenhum, consegui bons amigos e alguns inimigos, fãs e desafetos anônimos, enfim. Tudo isso o rock acrescentou em minha vida. E não teria feito o menor sentido, não fosse O Sexto Dedo arrematar tudo bem arrematadinho no fim.
Quando comecei a notar que o rock não me levaria muito longe, passei a priorizar outras coisas como faculdade, trabalho, namorado. Tudo bem que só me formei com 30, mas me casei, saí do país, estou vivendo uma vida que jamais imaginei que pudesse levar - morando bem, num país de primeiro mundo, fazendo mestrado e dando aula na principal universidade da Carolina do Norte. E o Geto - um puta cara que eu respeito pelos trabalhos que desenvolve e gosto muito mesmo da pessoa - vem dizer que vendemos a alma ao diabo?!?!!
Bom, o que eu quero dizer com tudo isso? Que o roque é uma merda e que me arrependo de tudo? Não, claro que não! O meu recado é esse, galerinha do rock:
O nosso rock'n'roll é o Sexto Dedo. Ouça esse disco e diga se ele não é bom, não é pesado, não é bem gravado, e o caralho a quatro. Ou continue sendo o típico rocker curitibano e não ouça! O rock tá aí e os roqueiros da minha cidade não dão a mínima. A rádio rock ignora. A rádio que não toca rock é que divulga!!! Vai entender. O diabo é Curitiba. E nós infelizmente não conseguimos nos vender por aí, pergunta pro Marcão lá da Vinyl quantos CDs nossos ele já vendeu? Zero discos? Um disco?
A nossa alma está no Sexto Dedo e o diabo não quer comprar... e olha que tamo vendendo baratinho, só 15 pila cada unidade. Por isso, gostaria de mandar vocês tomarem no cu, porque afinal de contas Curitiba não começa com cu à toa. E claro, hoje é o dia mundial do rock, o dia de tomar atitudes roqueiras babaquinhas e revoltadas!
Aos roqueiros de verdade, e aos otários que comemoram, feliz dia Mundial do Rock!!
Quer tirar a prova? Procure Dia Mundial do Rock no goolge em português, e depois em inglês, "July 13th, day of rock". A primeira busca resultará em considerável volume de ocorrências, já na segunda aparecerão somente 2 míseras pagininhas com vídeos e link de bandas brasileiras (ou melhor, gaúchas).
Não que isso seja um problema... mas acho bom desmitificar. Essa história do Dia Mundial do Rock aconteceu lá por volta dos anos 80, quando artistas famosos resolveram se unir contra a fome na África, participando de um festival que ocorreu ao mesmo tempo nos Estados Unidos e na Europa, afim de arrecadar fundos para os barrigudinhos da Somália.
Festivais como estes eram moda naquela década, mas este do dia 13 ficou mais famoso porque ocorreu simultaneamente em dois continentes e arrecadou 60 milhões para a causa da fome. Engraçado que os barrigudinhos da Somália continuam magros e desnutridos.
Aliás falta no mundo mais dias mundiais do rock, do jazz, do blues, da MPB, do pagode, seja lá do que for, que tenham este cunho filantrópico. Tanta criança desnutrida no Brasil, e os roqueiros, forrozeiros, pagodeiros e sertanejos universitários enchendo a pança de cachaça e nem aí pros descamisados e famintos brasileiros.
Mas voltemos ao roque, que é o que nos interessa... eu, depois de muito tempo prezando por ser roqueira e vivendo este desafio de viver da música, e mais ousadamente, do rock, cheguei a algumas conclusões diferentes da maioria daqueles aos quais, doravante, chamarei "roqueiros de verdade".
Eu não nasci pra ser roqueira. Primeiro porque cresci num ambiente MPB refinadíssimo - onde nem Roberto Carlos era muito bem visto. Minha educação musical foi escolhida a dedo por meus pais, e os meus ouvidinhos infantis iriam ouvir somente o fino da bossa, a música mais elitista possível. O Chico e o Tom eram os prediletos. Caetano e Gil, João Gilberto (chato pra caralho!) e Gal. O Rock só viria a conhecer na adolescência graças aos meus irmãos mais velhos e a minha paixão por Rita Lee e Roberto Carlos. Enfim.
A verdade é que esse tal de róquenrou foi uma fase muito boa da minha vida em termos de banda. Mas ele não acrescentou absolutamente nada financeiramente, muito pelo contrário, custou uma dinheirama violenta pra investir em instrumentos, cordas, viagens, cigarro, drogas, álcool, hospital, multas de trânsito, sem falar na chapinha, no cabeleireiro, na manicure, no figurino, nos quilos de bótons e batons, afinal de contas roquer requer estilo, e roqueiro que se preza não pode ser uma pessoa comum, né, roquer que é roquer tem que se destacar da multidão, ter um visual, saca? E acabar ficando igual aos outros roquers, mas ah.
Sem falar nas drogas. Cara! Acho que com tudo que eu já gastei só em álcool e cigarro dava pra fazer uma plástica com o Pitangui pra tirar essa barriga que os anos de bera me proporcionaram. Ou um transplante de pulmão, porque os meus já não valem merda nenhuma, pobrezinhos. E o fígado então? Afe! Bem, vejam o Ivo, do Blindagem. Isso sim é rock pra caralho!
O rock me proporcionou boas lembranças, mas as mais vivas delas permanecem aqui em carne em osso, na frente do espelho, quando você está com 30 e já não pode mais beber num dia sem sentir nada no outro. Daí você olha pro Keith Richards e pensa: esse sim nasceu pro Rock. A Andreza, do Uh La Lá também. Algumas poucas pessoas só, nascem pro rock.
Enfim, eu sou uma farsa. Eu não nasci pra ser roqueira, eu na verdade nasci pra ser atleta, mas daí veio o rock, daí fodeu! Foram alguns anos em que só me diverti, em que não fiz mais nada além de queimar neurônios e construir uma imagem mais ou menos carimbada na (ai como eu detesto essa expressão) "cena curitibana". Daí logo fui me preocupar (ou não) com algumas fofocas do meio, me envolvendo em intriguinhas tolas que nunca levaram a lugar nenhum, consegui bons amigos e alguns inimigos, fãs e desafetos anônimos, enfim. Tudo isso o rock acrescentou em minha vida. E não teria feito o menor sentido, não fosse O Sexto Dedo arrematar tudo bem arrematadinho no fim.
Quando comecei a notar que o rock não me levaria muito longe, passei a priorizar outras coisas como faculdade, trabalho, namorado. Tudo bem que só me formei com 30, mas me casei, saí do país, estou vivendo uma vida que jamais imaginei que pudesse levar - morando bem, num país de primeiro mundo, fazendo mestrado e dando aula na principal universidade da Carolina do Norte. E o Geto - um puta cara que eu respeito pelos trabalhos que desenvolve e gosto muito mesmo da pessoa - vem dizer que vendemos a alma ao diabo?!?!!
Bom, o que eu quero dizer com tudo isso? Que o roque é uma merda e que me arrependo de tudo? Não, claro que não! O meu recado é esse, galerinha do rock:
O nosso rock'n'roll é o Sexto Dedo. Ouça esse disco e diga se ele não é bom, não é pesado, não é bem gravado, e o caralho a quatro. Ou continue sendo o típico rocker curitibano e não ouça! O rock tá aí e os roqueiros da minha cidade não dão a mínima. A rádio rock ignora. A rádio que não toca rock é que divulga!!! Vai entender. O diabo é Curitiba. E nós infelizmente não conseguimos nos vender por aí, pergunta pro Marcão lá da Vinyl quantos CDs nossos ele já vendeu? Zero discos? Um disco?
A nossa alma está no Sexto Dedo e o diabo não quer comprar... e olha que tamo vendendo baratinho, só 15 pila cada unidade. Por isso, gostaria de mandar vocês tomarem no cu, porque afinal de contas Curitiba não começa com cu à toa. E claro, hoje é o dia mundial do rock, o dia de tomar atitudes roqueiras babaquinhas e revoltadas!
Aos roqueiros de verdade, e aos otários que comemoram, feliz dia Mundial do Rock!!