A terceira edição do evento PRAS BANDAS, que surgiu no final do ano passado para valorizar a cultura nos bairros mais afastados de Curitiba, foi um grande sucesso.
O evento é uma espécie de festival de bandas, mas com a grande diferença de que seu objetivo não é apenas o de proporcionar aos novos grupos uma boa – e muito boa – oportunidade de mostrar o seu trabalho. Além de fomentar a cultura nos bairros através da música, o evento também promove a arrecadação de livros usados, para serem posteriormente selecionados e doados às escolas públicas da região. Um grande esquema de divulgação é feito, envolvendo TV, jornais, out-doors e veiculação de chamadas nas rádios. Além disso, há uma grande colaboração da própria comunidade, sendo que muitos comerciantes da região apóiam a idéia e ajudam a viabilizar o evento.
Marquei esta data ainda no ano passado, e na ocasião eu não sabia que o Bruno, meu maridão e baterista, estaria viajando. Mas tivemos sorte! Contamos com a boa vontade de um dos melhores músicos de Curitiba, Mola Jones, para substituir o Bruno e cumprir com muita competência o papel de baterista em dois shows dos Criaturas: Jokers e Boqueirão.
Acordei meio mau no domingo, tinha tocado com Gianninis na noite anterior em Piraquara, e vinha acumulando ressacas de uma semana inteira, já que nos apresentamos na quinta-feira no Jokers, e nos dias anteriores ensaiei com Criaturas, Gianninis e The New Beatles e todos vocês sabem como bebo bem nessas ocasiões. Hehehe...
Mas como eu ia dizendo, acordei sem a mínima vontade de levantar naquele dia frio e cinzento. Domingo já é um dia lazarento por natureza. Com chuva ainda, torna-se um convite quase irresistível pra se ficar em casa assistindo a um filme embaixo das cobertas. Mas nem pensar nisso. O show no Boqueirão estava marcado, e ainda que a preguiça fosse grande, jamais seria bastante para não ir.
Chegamos no local do evento, o Espaço Sucão, e fiquei muito satisfeita. Era um lugar grande, de ótima estrutura. Além de uma pizzaria, tinha uma área aberta e um galpão – onde os shows aconteciam – e ficava de frente para uma praça movimentada, rodeada por barzinhos. A famosa praça dos Menonitas, que até então eu não conhecia.
Saí do carro e já ouvi um rapaz falando, ao cumprimentar umas garotas de cabelos tingidos e piercings, que estava lá pra ver os Criaturas. Foi um bom começo! Entramos e fomos tomar uma cerveja, não sem antes conhecermos todo o lugar e dar uma olhada nas bandas, além de cumprimentar e conhecer os organizadores. O Sucão estava cheio, mas era certo que grande parte dos que estavam ali, foram pra tocar. Tinha gente de todo tipo: mano, punk, dark, emo, hippie, além de alguns estereótipos por mim desconhecidos e, portanto, inclassificáveis. Mas todos estavam na boa, ninguém nem aí pras diferenças.
Logo que sentamos em uma mesa (eu e o Mola, pois o Rafa e o Caetano ainda não haviam chegado), vieram umas garotas nos conhecer, apresentadas por Getúlio, o organizador do PB. Você é a Xanda? Posso tirar uma foto? Assina minha camisa? Vocês vão tocar Bianca? No início fiquei um pouco sem jeito, mas estaria sendo hipócrita se dissesse que não gosto de ser abordada desta forma. Afinal de contas, quem é que não gosta de receber elogios e de saber que existem pessoas que reconhecem e valorizam do seu trabalho tanto quanto você?
Algumas cervejas depois, subimos ao palco do Pras Bandas. O calor era tanto que meus óculos embaçaram tão logo eu entrei no galpão, até os instrumentos ficaram suados. O público já se animava e gritava: Criaturas, Criaturas, Criaturas!
Enquanto afinávamos os instrumentos, eu ia dizendo algumas merdas no microfone. Foi quando começaram a gritar: Gostosa! Gostosa! E depois: Tira a roupa! Tira a roupa! Nesta hora eu me empolguei e abri alguns botões da camisa, para delírio dos fãs! É... sei que ainda não sou nenhuma Babi e, se depender do Bruno, jamais chegarei lá! Mas enfim... eu só mostrei mesmo o sutiã!
Começamos com Bianca, música que foi entoada pela grande maioria do público, para nossa surpresa. Depois, em Não presto pra você e Covardia, um ou outro subia no palco, cantava junto, pulava em cima da multidão, que os erguia por mais algumas vezes, e ficavam pogando, dançando, cantando, gritando...
Quando começamos a tocar as canções mais calmas, o público sossegou um pouco, mas não deixou de aplaudir e em nenhum momento eu deixei de sentir a mesma emoção de Londrina, e porque não dizer, ainda maior, por estar tocando em minha cidade.
Saímos de lá com uma sensação inigualável de dever cumprido. Incrível como eu subestimava o público curitibano. Mas o fato é que eu não sabia como era bom tocar pra essa meninada. Nunca saímos do circuito underground do centro de Curitiba, onde encontramos um monte de gente mais velha, mais bacana, que se diz conhecedor da cena, mas que é incapaz de realmente se emocionar com uma bandinha local. Mesmo assim, sempre respeitei o nosso público, fosse ele paradão ou mais exaltado. Fosse ele grande ou meia dúzia de gato pingado. Ao menos eles saem de casa para ouvir a gente. E sempre, em qualquer show, eu vou tentar fazer de tudo para que quem estiver assistindo goste. Mas é fato que, quando o público é bom, tudo fica muito mais fácil e divertido!
Agradeço às bandas que gentilmente nos deixaram tocar antes devido ao atraso da programação, ao público pela receptividade tão calorosa e, finalmente, ao Getúlio, por ter nos convidado nos dado a oportunidade de fazer parte desta grande e louvável iniciativa.
Vida longa ao Pras Bandas!